As raças braquicefálicas foram desenvolvidas em função da beleza estética, mas a saúde ficou comprometida por deformações congênitas
A primeira coisa a se considerar ao adquirir cães e gatos de focinho curto, denominados braquicefálicos, é preparar-se financeira e psicologicamente. Antes de explicar o que é, de fato, um pet braquicefálico, saiba que seus tutores podem subitamente se deparar com olhos que saltam para fora do crânio, engasgos recorrentes, hipertermia (superaquecimento do corpo do animal), dificuldade em respirar, problemas dentários e outras complicações de saúde. A fofura desses cãezinhos de cara achatada costuma vir acompanhada de problemas que merecem atenção redobrada de seus donos. Há casos em que são necessárias cirurgias corretivas nas deformações congênitas do trato respiratório.
Cães ou gatos braquicefálicos são aqueles pertencentes a raças apuradas para terem uma modificação cosmética que deixa o crânio mais curto do que o normal. Eles possuem o trato respiratório superior curto e estreito, o que lhes confere dificuldade maior na respiração. A seleção genética feita ao longo de centenas de anos almejava a beleza estética, com um maxilar superior recuado e o inferior (mandíbula) inalterado, proporcional ao tamanho do corpo. O resultado foi aquela aparência irresistível e fofa da carinha achatada, como a dos gatos Persas ou dos Pugs. Entretanto, o processo gerou conformações anatômicas internas importantes e nada positivas.
A fofura desses cãezinhos de cara achatada poderá vir acompanhada de problemas que merecem atenção redobrada de seus donos
A Síndrome Braquicefálica se refere à combinação do palato mole alongado, narinas estreitas e sáculos laríngeos deformados, que comumente são características das raças afetadas. Alguns cães ainda possuem uma traqueia muito estreita, laringe deformada ou paralisia das cartilagens da laringe.
Nos braquicefálicos, que incluem raças como o Buldogue Inglês, Buldogue Francês, Boxer Pequinês, Shih Tzu, Boston Terrier, Cavalier King Charles Spaniel e Pug é possível notar uma respiração mais pesada e barulhenta. Isso ocorre por conta do palato mole alongado (tecido que separa a passagem nasal da cavidade oral) e outros tecidos da boca e garganta que não cabem muito bem dentro do crânio achatado do cão. A sobra do palato mole, por exemplo, fica dependurada na garganta e dificulta a passagem do ar durante a respiração. Contudo, esses problemas respiratórios são raros, à exceção das raças Buldogue Francês, Inglês e dos Pugs. Para os braquicefálicos, os latidos em excesso podem causar inchaço e consequente fechamento da garganta, algo muito perigoso.
A hipoplasia traqueal, que são estreitamentos da traqueia, podem ocorrer em braquicefálicos. Por isso, qualquer cirurgia precisa ser antecedida de um exame radiológico para detectar esses afunilamentos da via respiratória: o risco anestésico aumenta em braquicefálicos e a anestesia inalatória é a mais indicada.
Hipertermia
Animais braquicefálicos podem ser acometidos por hipertermia, um superaquecimento corporal em virtude da falta de ventilação, principalmente durante os meses mais quentes do ano. Quando o formato do crânio é normal, durante a respiração o ar percorre um caminho razoável pelas narinas e boca do animal. O fluxo de ar passa pela língua e outros tecidos da boca resfriando o sangue, que é redistribuído para o resto do corpo. Nos braquicefálicos o caminho do ar é menor e insuficiente para cumprir essa tarefa. Tal ineficiência leva o animal a um esgotamento prematuro em atividades físicas.
Cuidados
Cães e gatos braquicefálicos tendem a ser gordinhos e devem manter o peso adequado. Quando estão obesos se cansam mais, sentem mais calor e ficam mais suscetíveis à hipertermia, que é o aumento excessivo da temperatura do corpo. Evite sair passear com o sol muito quente e não faça percursos muito longos e cansativos. A obesidade também resulta em infecções dermatológicas nas dobrinhas da pele, por isso a higiene constante é recomendada.
Peso adequado, exercícios moderados e higiene criteriosa dos dentes e da pele devem estar no cotidiano dos caras chatas
As vias respiratórias obstruídas sempre irão dificultar a vida do pet, que fica sujeito a engasgos com comida, água ou com a própria saliva. Evite oferecer grandes porções de comida se o pet estiver muito agitado com a fome. O afobamento pode causar um engasgo fatal. Alimente-o com ração de boa qualidade, na quantidade estritamente necessária.
Os 42 dentes do cão costumam caber direitinho dentro da boca, mas nos braquicefálicos há menos espaço e os dentes ficam tortos e encavalados: maior possibilidade de doenças periodontais causadas pela retenção de alimentos. É necessário cuidar bastante da limpeza bucal do animal.
A reprodução dos braquicefálicos também costuma ser perigosa por causa da largura da cabeça, o que dificulta muito o parto. Deixe a cruza por conta dos criadores profissionais, que recomendam cesárea para evitar maiores problemas.
Os braquicefálicos possuem as órbitas oculares muito rasas, de forma que uma pancada na parte de trás da cabeça ou um puxão muito forte pela coleira pode ser suficiente para expulsar o olho para fora do crânio. Não é incomum aparecerem donos aflitos em hospitais veterinários segurando um braquicefálico com um olho preso à cabeça apenas pelo nervo óptico.
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