Ao contrário do que muita gente pensa, a psique canina existe e não é exagero ou humanização do animal

Por milhares de anos os cães serviram à espécie humana ajudando-a a encontrar comida, caçar outros animais, defender o território, brincar com as crianças ou meramente servir de companhia. Para extrair o melhor dessa relação entre o cão e o homem é necessário entender como os cães pensam e se comunicam, embora muitos não aceitem existência de uma psique canina ou que ela signifique alguma coisa: o mito humano de que apenas humanos são capazes de pensar. A verdade é que muitos donos de cães se deparam com problemas comportamentais em seus pets por desconhecer o básico da psicologia canina.

Uma série de fatores comportamentais do cão, na relação com pessoas e com outros animais, compõem a psicologia canina. A maneira como o tutor do animal interage com ele é muito importante nesse aspecto. Por exemplo, animais muito mimados pelo dono tendem a ser agressivos com visitas por julgarem que devem protegê-lo, uma vez que não se impõe. Cientistas confirmam que não só os cães têm emoções, mas que eles também são capazes de comunicar excitação, prazer, ciúmes, suspeitas, timidez, dor, tristeza, raiva, medo, contentamento, amor e afeto.

Cientistas confirmam que os cães têm emoções e são capazes de expressar uma série de sentimentos

O simples convívio cotidiano entre donos e cães demonstra que há muito mais coisas rolando na cabecinha do peludo. Pesquisas científicas mostram que os cães raciocinam. É o que diz a pesquisadora e PhD em biologia celular e molecular norte-americana pela Universidade do Tennessee, Dra. Jill Sackman. Segundo ela o nível cognitivo de um cão é o mesmo que o de uma criança com idade entre três e cinco anos. Portanto, se os cães pensam, eles também possuem discernimento, embora ocorra em níveis inferiores aos que se apresentam em humanos. Os cães tomam decisões e têm emoções. Onde há emoção, há espaço para o conflito, frustração e medo, as três origens dos problemas comportamentais sofridos pelo cão. Cabe ao dono procurar um profissional que ajude a encontrar o equilíbrio do pet. Isso nada tem a ver com exageros ou humanização dos cães.

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O estudo intitulado Psychological Factors Affecting Cortisol Variability in Human-Dog Dyads (Variação de Cortisol Causada por Fatores Psicobiológicos em Pares de Humanos-Cães), liderado pela austríaca Dra. Iris Schöberl e publicado em fevereiro deste ano, aponta uma inter-relação das reações emocionais de cães e seus donos, baseado na variação dos níveis de cortisol no organismo de ambos. Na prática, isso quer dizer que o animal é influenciado pelo seu dono e tende a demonstrar as mesmas reações quando submetido a situações desafiadoras. Uma frase muito usada no meio cinófilo explica muito melhor isso: “tension flows down the leash“, ou seja, “a tensão desce pela guia”. As emoções do dono passam para o seu cachorro.

Tension flows down the leash é a sentença em inglês para dizer que as emoções do dono descem pela guia e contaminam o cachorro

Durante o estudo feito pela equipe de Schöberl, 132 duplas de donos e seus cães foram submetidas a diversas situações que provocam ansiedade: aproximação ameaçadora de alguém usando máscaras de esqui e capuz, travessia de uma ponte com estrutura instável (ponte pênsil), separação entre cão e dono por algum tempo e outras. Tomando como base as variações dos níveis de cortisol na saliva de ambos, ficou constatado que os cães mais capazes de lidar com situações de tensão tinham os donos mais amáveis. Descobriu-se que os animais com menos capacidade de enfrentar adversidades eram aqueles com donos mais confiantes e estáveis emocionalmente.

Os testes foram baseados na Teoria dos Traços da Personalidade (Big Five), estruturado pelo psicólogo britânico William McDougall, ainda na década de 1930. McDougall sugeriu analisar a personalidade a partir de cinco fatores independentes: extroversão, consciencialidade, abertura para a experiência, estabilidade emocional e amabilidade. Apenas estes dois últimos foram considerados na pesquisa da cientista austríaca.

Cães de quaisquer raças são desprovidos de códigos morais ou éticos, portanto não possuem senso de culpa. Reprimi-los momentaneamente por alguma travessura não é o melhor caminho e o resultado poderá se traduzir em um animal depressivo. Em casos de desvios comportamentais, procure um profissional qualificado. Ele saberá identificar as origens do mau comportamento e estabelecer uma conduta correta para que o dono alcance o melhor convívio possível com o animal.

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